sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Estranho Mundo de Tim

Tim Burton
O diretor que mostra nas telas um pouco de sua própria história


Excêntrico, esquisito, assustador. São muitas as palavras que podem descrever Tim Burton. Mas, para uma compreensão mais rica de sua obra, é preciso desvendar os elementos temáticos e estilísticos que fundamentam a bem-sucedida carreira do diretor americano.

Nascido no mês de agosto do ano de 1958, Timothy William Burton cresceu em meio à efervescência cultural de sua cidade, Burbank, na Califórnia, que abrigava estúdios de cinema e televisão. O ar sombrio presente em sua filmografia tem origem na infância complicada do menino retraído das escolas americanas. Para fugir da realidade, Burton alimentava sua imaginação com filmes de monstro, livros de Edgar Allan Poe e com uma figura que marcou não só a vida do cineasta, mas também toda a sua obra, o ator norte-americano Vincent Price.


Primeiro Trabalho


Cena da animação Vincent
“Vincent” é nome do primeiro experimento cinematográfico do diretor. Feito nos estúdios da Disney, de onde, após o colegial, conseguiu uma bolsa para estudar no Instituto das Artes da Califórnia, o curta foi baseado num poema escrito por Burton.

O texto, visivelmente autobiográfico, é narrado pelo próprio Vincent Price e foi animado com fotografia em preto e branco através de uma técnica que reúne stop-motion e desenho animado.

Em “Vincent”, é possível encontrar a multiplicidade de referências que se tornariam marca registrada dos filmes de Tim Burton. Sem contar o tradicional menino estranho de camisa listrada, as outras referências encontradas são a influência do cinema de horror americano dos anos 30, seriados e filmes B dos anos 50, contos e poemas de Allan Poe, ilustrações de Dr. Seuss e Edward Gorey, criadores de “Mister Magoo”, e os filmes de terror alemães da década de 20, como “O Gabinete do Dr. Caligari”.

Um dos momentos que mais faz lembrar a própria história de Burton no filme é a primeira cena, quando o narrador apresenta o personagem. Na primeira estrofe, a voz marcante de Price se interpõe entre a canção “The Hoochie Kootchy Dance” tocada na flauta do menino; “Vincent Malloy is seven years old / He's always polite and does what he's told / For a boy his age, he is considerate and nice / But he wants to be just like Vincent Price.




Carreira


Uma das primeiras animações do diretor
Depois de assistir “Frankeweenie”, um dos curtas feitos por Burton na mesma época de “Vincent”, o escritor Stephen King o indicou a um executivo da Warner e o diretor logo foi convidado para trabalhar em projetos da casa. O primeiro sucesso veio em 1988 com o filme “Os Fantasmas se Divertem”, que o levou a ser convidado para dirigir “Batman”. Com a grande exposição dada pela Warner, Tim conseguiu, pela Fox, escrever, dirigir e produzir o filme “Edward Mãos de Tesoura”. Com esse filme, o cineasta passou a ser visto pela crítica como artista e como diretor cult pelo púbico.

Em 1992, com o fracasso de “Batman, o Retorno”, Burton passou a se dedicar a projetos mais alternativos, como “Ed Wood”, um tributo ao cineasta americano considerado o pior diretor de todos os tempos. O filme não foi um sucesso de público, mas lhe rendeu dois Oscars. Dois anos mais tarde, outro filme de desempenho fraco, “Marte Ataca!”.

Ator Johnny Depp no filme Edward Scissorhands
Em 1999, passado esse período obscuro da carreira, Burton emplacou um grande sucesso com seu primeiro filme de terror propriamente dito. “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” marcou de uma vez por todas a famosa união com o ator Johnny Depp. Nesta mesma época, a parceria com o ator se fez mais uma vez presente na refilmagem de um clássico da década de 70, “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Já em 2005, em seu retorno à animação, o diretor foi novamente indicado ao Oscar com o filme “A Noiva Cadáver”. Ele, que não um grande fã de musicais, também foi indicado ao Globo de Ouro de melhor direção em 2007 com o musical “Swenney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”. 2010 foi o ano mais lucrativo da carreira do diretor. A mega-produção hollywoodiana “Alice no País das Maravilhas”, que contou com um elenco de estrelas, entre elas Johnny Depp, arrecadou mais de um bilhão de dólares em bilheterias no mundo inteiro.

No filme Alice Wonderland,
a parceria com Johnny Depp
Depois da consagração mundial, Tim Burton quer voltar às origens. Seu próximo projeto é, novamente, uma animação em stop-motion baseada em seu próprio curta de 1984, “Frankeweenie”. O lançamento está previsto para março de 2012.


Literatura


Como já havia demonstrado no começo da carreira, Tim Burton tem outro talento desconhecido do público. Em 1997, a edição brasileira saiu dez anos mais tarde, ele lançou um livro chamado “O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias”.

Apesar de ser uma história de temática infantil, o livro descreve cenas de violência familiar, suicídio, insinuação ao sexo e traição conjugal. E, como a maioria das histórias de Burton, sem final feliz.

O livro, recheado com as fantasias típicas do diretor, conta a história de um menino rejeitado pela mãe, viciada em “cheirar oceano e alga marinha”, e do pai, que sofre de disfunção erétil e descobre através de um médico que comer ostra melhora o desempenho sexual.

Mas as aberrações da história nem sempre são desgraças. No livro, escrito em forma de poema, um “menino-queijo” chamado Brie encontra a amizade de um vinho.